Cora o meu rosto, reflexo da blusa!

13hs, olhei para o relógio que ainda resistia vitorioso em meu pulso e a vi em segundo plano sorrindo para mim. Depois disso o cansaço me fez adormecer e sonhar com paisagens de estranha realidade.
Agora estou sentado sob a sombra de uma enorme árvore e me distraio olhando um riacho de águas transparentes que correm próximas aos meus pés descalços. Estão repletas de pequenos peixes multicoloridos que me fazem sentir uma paz indescritível. Eu, a grande árvore, as águas e os peixes do riacho, o céu azul, as nuvens em forma de palhaços que sorriem para mim, as ovelhas sobre uma planície esverdeada, somos um só. Ao longe, crianças brincam nas proximidades de um muro amarelo infinito. Às minhas costas há um campo de flores e arbustos que se misturam como em um caleidoscópio. Pouco a pouco o orvalho se junta à terra e vai assumindo a forma da mais bela donzela. Chama-se Helea ao invés de Helena, mas são a mesma pessoa. Ela me olha e sem mover os lábios diz que me ama. Seu hálito tem perfume de anis que refresca o meu rosto e me envolve por inteiro.
Num piscar de olhos a cena se desfaz e eu escuto uma música que vai aumentando bem devagar: Love you till twesday. Sentado em um banco de pedra, Bowie canta e me acena como se eu fosse um velho conhecido. Um de seus olhos está estático e parece me fitar até ir se transformando em réstia solar que invade o quarto, ofusca as minhas retinas e me faz acordar. São 16hs e 27min, estou sozinho e, apesar do frio lá fora, completamente molhado de suor. No aparelho de som ainda está tocando a mesma música. O apartamento está mergulhado em uma espécie de vazio, silêncio profundo e triste. Um leve perfume de anis paira no ar. Não tenho certeza dos acontecimentos. Não sei ao certo se viemos até aqui, se é que eu tenha saído do apê na noite anterior. Ainda estou meio tonto, confuso. Fora a cama desarrumada e as marcas de mordidas dispostas harmoniosamente em cada um dos meus ombros, tudo está em seu devido lugar... Tanto tempo se passou, tantas outras histórias: risos, amigos ao longe, solidão em mim, vivendo em mim. Estou saindo de férias hoje, rumo ao litoral norte do Rio Grande do Sul. No rádio do velho chevrolet escuto Sonic Youth, o sol desaparece lentamente no horizonte distante...

11 comentários:

Carmem Salazar disse...

cenário para sonho imaginado

Marcia Barbieri disse...

Esscutando essas músicas é fácil confundir realidade e sonho. Adorei sua narrativa,dormi e acordei e confesso: ainda estou confusa,ainda há pedaços de sonhos em mim e isso é bom...

beijos
vou te linkar

Anônimo disse...

Lindo teu texto. Profundo como sonho e lisérgico como tal :)

Feliz e toda prosa de estar linkada aqui :)

Obrigada por sempre ser tão gentil comigo.

Ótimo domingo!
Beijo.

Adriana Godoy disse...

Bonito texto o seu. Traz lembranças, forma imagens, brinca com as ideias de uma forma muito poética. Gostei muito.

"Fora a cama desarrumada e as marcas de mordidas dispostas harmoniosamente em cada um dos meus ombros, tudo está em seu devido lugar"...Muito lindo.

Beatriz disse...

Paisagens oníricas mais reais do que a realidade.
Gosto desse jeito livre de birncar com as imagens.

Gabriela Galvão disse...

As imagens casaram mt bem c o texto. Isso de ela dizer q t ama s mover os lábios... Conheço alguém q sabe fazer isso!

Mt, mt bom.

Bisous

Luciano disse...

Gabriela, seja bem vinda ao Gergelim.
Fiquei curioso sobre essa pessoa com tal poder.
Abraço de luz.

Cecilia disse...

Lindo texto,Luciano!!

" Ela me olha e sem mover os lábios diz que me ama".....
Feliz daquele, que se faz entender sem precisar de palavras......

Um abraço.

Poetisa Rebeka Alves disse...

Meu amigo!
Muito lindo, melhor o que faz com meus sentidos viajei de cara, Parabéns

Anônimo disse...

Sempre tão belo o que escreves...pena...

MERGULHANDO NAS PALAVRAS disse...

AS músicas, o anis, a solidão em mim, as marcas, o chevette...imagens, sons...ressonâncias em mim...vc é demais!