Saideira, estrada quase vazia, acostamento, faróis desligados. No rádio toca-fita rolava, quero dizer, deveria estar rolando Jesus & Mary Chain. A verdade é que não se ouvia muita coisa, apenas um zóing-zóing-zóing incessante e dali a pouco o vidro traseiro arrebentando e uma figura que apareceu não se sabe de onde, dentro do carro do filho do Tião, com a cara toda ensanguentada. Bah, maior cagaço! Um ficar de cara instantâneo. Naquela noite de domingo, no final dos 80, o chevette teve de ir embora bem de cantinho, para não chamar muito a atenção!
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Vitamina de banana, leite e cogumelos sagrados na companhia de Dibes, o Czar. Nas águas mansas descanso, mergulho e penso sobre nuvens coloridas e Cristos interiores. Em frente aos meus olhos há montanhas dançantes feitas de batiques indianos que se embalam ao som de This Mortal Coil. Elas estão longe e estão perto e brilham nas cores da mata. À noite, as Crianças de Pedra na sacada de um prédio antigo, da Júlio de Castilho, riem para mim. Sensação de paz interior e plenitude.
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Jazz, mais rock, mais MPB, mais uns goles de trago, mais porão, mais cigarros é igual a banho de piscina, mais Carmina Burana, mais correr só de cuecas no gramado da casa dos pais de outrem, mais toalhas esvoaçantes, mais votos de amor para a posteridade. Tudo isso e mais um pouco. Misturança das brabas.
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Do casamento desfeito, dois filhos lindos. Nova fase, mil expectativas. Deitada sobre o sofá, lembrou-se de todas as coisas boas e mágicas até aquele instante. As que aconteceram, as que estavam acontecendo e as que haveriam de acontecer. Mordeu os lábios e pensou em André e na história de amor mal resolvida entre eles. Alguém uma vez disse que somente esse tipo de amor permanece vivo em algum lugar. Encantado para todo o sempre. Depois daquele cara (era assim que ela o chamava), havia mudado. Estava inteira novamente. Juntou todos os cacos, não os colou. Simplesmente escolheu criar com eles um belo mosaico colorido. Já não havia mais pânico ou qualquer outro tipo de sentimento ruim, apenas sossego e paz. Olhou para o relógio e sorriu. Sete e quarenta e cinco da noite: Happy niver to me! Saiu de casa e deixou o lugar à penumbra calma da incompletude. Estava renascida, liberta. Fechou a porta, virou-se de costas e brilhou até virar uma estrela.
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Vitamina de banana, leite e cogumelos sagrados na companhia de Dibes, o Czar. Nas águas mansas descanso, mergulho e penso sobre nuvens coloridas e Cristos interiores. Em frente aos meus olhos há montanhas dançantes feitas de batiques indianos que se embalam ao som de This Mortal Coil. Elas estão longe e estão perto e brilham nas cores da mata. À noite, as Crianças de Pedra na sacada de um prédio antigo, da Júlio de Castilho, riem para mim. Sensação de paz interior e plenitude.
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Jazz, mais rock, mais MPB, mais uns goles de trago, mais porão, mais cigarros é igual a banho de piscina, mais Carmina Burana, mais correr só de cuecas no gramado da casa dos pais de outrem, mais toalhas esvoaçantes, mais votos de amor para a posteridade. Tudo isso e mais um pouco. Misturança das brabas.
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Do casamento desfeito, dois filhos lindos. Nova fase, mil expectativas. Deitada sobre o sofá, lembrou-se de todas as coisas boas e mágicas até aquele instante. As que aconteceram, as que estavam acontecendo e as que haveriam de acontecer. Mordeu os lábios e pensou em André e na história de amor mal resolvida entre eles. Alguém uma vez disse que somente esse tipo de amor permanece vivo em algum lugar. Encantado para todo o sempre. Depois daquele cara (era assim que ela o chamava), havia mudado. Estava inteira novamente. Juntou todos os cacos, não os colou. Simplesmente escolheu criar com eles um belo mosaico colorido. Já não havia mais pânico ou qualquer outro tipo de sentimento ruim, apenas sossego e paz. Olhou para o relógio e sorriu. Sete e quarenta e cinco da noite: Happy niver to me! Saiu de casa e deixou o lugar à penumbra calma da incompletude. Estava renascida, liberta. Fechou a porta, virou-se de costas e brilhou até virar uma estrela.
20 comentários:
fiquei com medo, parece a minha história! até os nomes, até os mosaicos...
todo passado dá um belo mosaico...
[eu tenho vários]
beijos
Jujuba, não precisa ficar com medo não. Como a Sentimental bem lembrou, todo passado dá um belo mosaico. Todos nós temos um ou vários deles com a gente.
Abração.
[mesmo qndo a história é 'trágica']
Um mosaico feito de cacos do tempo para a libertação no dia do aniversário. O texto inspira pensar em nossa própria história. Muito lindo. Beijo.
Realmente,todos nós temos mosaícos a montar,belíssimas"pedradas",lembranças são sempre boas,mesmo que ruins.
Adorei isto, Luciano, especialmente sobre "o amor mal resolvido, o únco que permanece vivo em algum lugar, encantado para todo o sempre..."
Lindo e verdadeiro. Teus textos também são encantados.
Abraço
Nydia
Lindo mesmo... como todos já disseram antes, parece a história da gente mesmo, contada em prosa. Parece mesmo. Mas qualquer semelhança é pura coincidência, não é mesmo, Luciano? O mais legal é que se trata de uma reflexão de aniversário... Valeu.
Ah! O que mais gostei: "...estava renascida... liberta. Fechou a porta, virou-se de costas e brilhou até virar uma estrela." Virou mesmo.
Mesmo quando a história é trágica, Sentimental. Bem nessas...
Drika, que legal, sempre bom refletir sobre a vida né? Muito comum nas datas comemorativas.
De fato, Ina, todo nós temos nossos próprios mosaicos.
Nydis, obrigado. Aos poucos vou aprendendo a narrar histórias curtas.
Re, que legal pintar a identificação. Que brilhes tb como uma estrela.
Abração a todos.
Sim, mesmo qndo são 'trágicas', pq elas servem de experiência e ajudam a não repetir os erros.
beijos
bah (homenagem aos RS)
sensacional as historietas; tava com fome de publicar, hein, véio?
e ainda influenciou a nossa única & exclusiva, que te citou lá no dela
mandou bem!
bananada com cogumelo... dizem, melhor mastigar puro
abração!"
Uau, este começo, alguma coisa do meio e...
Me faz lembrar de muita coisa das galera!
Um grande abraço, Walda!
Salve Guilherme, hehehe, bem nessas. Muita coisa da galeruvurs da antiga.
Gustavo(minicontos)legal poder compartilhar desses escritos com uma autor de narrações que eu aprecio ler. Abração dionisíaco tchê!
"Juntou todos os cacos, não os colou. Simplesmente escolheu criar com eles um belo mosaico colorido."
Isso aí são aqueles fragmentos que pautamos nossas vidas... antigas recordações que nos transformaram.
Adorei! Quero voltar sempre!
Abração. Estamos por aí... esperando os próximos capítulos. Rê.
Charlotte, Que bom que tenha gostado dos escritos, do blog. A intenção é essa, poder compartilhar istórias, narrativas, canções, vivências.
Volte sempre.
Rê, de semana e semana, pretende-se colocar, não posso te dizer capítulos, mas as narrativas que já estão rolando e parecem agradar.
Abração.
Parecem? Você é muito modesto cara!!!
E de novo e de novo, viajei no passado, colcha de retalhos embalada pelo alternativo, pelo progressivo, pelo gótico, pelos versos de Carmina, pelas minhas loucas viagens, sentimentos, sensações, grandes amores...que escritossssssss! Totalmente demaisssss....e os "sons" aqui me envolvendo...
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